Pesquisas realizadas mostram que em períodos de crise as pessoas se sentem, de modo geral, inseguras, carentes, confusas e vulneráveis. Lembrando que os líderes também são pessoas!
É fundamental que o líder, perceba como ele sua equipe estão se sentindo, como estão percebendo a situação, o que necessitam, para então, se preparar para liderar nessa situação de crise.
E, claro, se perguntar também como estão a minha empresa e o segmento do meu negócio? O que minha empresa quer e como chegaremos lá?
Pois, as empresas, por sua vez, estão também vulneráveis, indecisas; buscando por sobrevivência, redução de custos, manutenção dos funcionários e reinvenção dos negócios.
O propósito amparando mudanças
Neste cenário, a ação principal do líder é resgatar a sinergia entre o propósito das pessoas, da empresa e do negócio. Revisitar esse propósito à luz da crise, nos faz pensar e considerar o sentido que damos à vida. E é este sentido que vai alimentar e mobilizar as pessoas e a liderança, gerando perspectivas e horizontes.
No início da pandemia do COVID-19, muitas mudanças práticas ocorreram de forma rápida e repentina, por exemplo: o home office que muda a forma e o ambiente de trabalho; execução de novas atividades ou atividades de outra área; o comando de dois gestores (gestão matricial) sob uma mesma pessoa; produtos/serviços novos entram em cena e saem de cena o que se costumava faze; mudanças de funções; enfim, um mundo de mudanças.
Neste momento, a resiliência do líder o ajudará a tratar essas mudanças e seus impactos de forma mais leve, ou seja, sem reclamação, pois a reclamação traz em si peso e reatividade.
Além disso, o sentimento circunstancial de confusão pede que o líder traga alguma referência à cena, a razão de estar ali trabalhando, o propósito. Isso traz relevância ao trabalho de cada um, mostrar como cada pessoa pode contribuir para esse propósito. Igualmente, mostrar o Norte, ou uma definição mínima do que se deseja – o que vamos fazer e como – dá segurança à equipe.
A clareza da situação
A clareza na comunicação do líder é crucial em uma crise, trazendo a informação e o conhecimento necessários para lidar com o contexto. O trabalho remoto gera maior distanciamento, então a liderança precisa incentivar a troca, o diálogo e o compartilhamento. A escuta tem um papel primordial para promover a empatia e o acolhimento, a inclusão. E fazer perguntas faz com que as pessoas falem, se coloquem e opinem. Pedir que as pessoas se mostrem na videoconferência, explicar a importância de estar presente como todos ali estão.
Como as mudanças em andamento, os líderes precisam identificar os problemas mais críticos da equipe, apoiar, buscar solução conjunta. Aqui entra em jogo algumas competências importantes para 2020 apresentadas há 5 anos no WEF: a Coordenação com os Outros e a Inteligência Emocional.
Conhecimento e aprendizado para lidar com as incertezas
Um outro aspecto da crise que demanda uma ação assertiva do líder é a incerteza do que vai acontecer. Dar o Norte, mínimo, e gerar um acordo de trabalho, incentivando e valorizando o empenho de cada um, são ações primárias de um líder. Mas não suficientes.
Nesse momento estamos diante de coisas novas que, ainda, não nos são familiares. É muito importante que o líder instigue sua equipe a explorar as próprias capacidades, a buscar conhecimento e ser curiosa. Quando buscamos conhecimento sobre uma situação, mesmo que não a tenhamos sob controle, somos capazes de enxergar melhor o todo ou, pelo menos, algumas de suas interações, e focar no que está ao nosso alcance e no que podemos observar e fazer algo a respeito. O entendimento do que acontece suaviza a incerteza, e o aprendizado e o ganho de conhecimento trazem segurança e novos horizontes. Isso cria novas perspectivas. E, aqui vem um desafio para o líder que é a mudança de sua mentalidade, do seu mindset, que é explorar as capacidades dos seus colaboradores, para além das competências. Capacidade de novos aprendizados, de lidar com necessidades futuras, de expandir.
O conhecimento novo incrementa a trabalhabilidade do colaborador, termo que em engenharia mecânica mostra a facilidade com que uma substância pode ser transformada. Neste sentido, é crucial que o líder explore e cultive as capacidades do colaborador e incentive o desenvolvimento de novos aprendizados e habilidades. Utilizar de empatia, diálogo, flexibilidade, abertura para o novo, flexibilidade cognitiva. Eis aqui mais algumas das competências que o WEF definiu para 2020.
Interações complexas e a multidiscip-linariedade
Essas competências nos ajudam a lidar com as situações complexas que as equipes estão experimentando. Há uma complexidade nas interações, nos impactos causados, no lidar com diferentes áreas de conhecimento, com o desconhecido e com a incerteza.
O papel do líder quanto da a equipe é compreender essas interações, tomar consciência do impacto delas nas pessoas, nas entregas. Os trabalhos estão exigindo ainda mais interdependência entre as áreas de conhecimento; são múltiplos os aspectos a serem analisados para compreender uma situação. Surgem novas atividades, novo posicionamento estratégico da empresa, novos competidores, novos chefes, novas formas de nos relacionarmos.
A multidisciplinariedade é um valor tremendo para o líder neste momento. Além disso, para se destacar no oceano de opções e informações, posicionamento é fundamental. E, um dos pontos mais difíceis nessa definição não é escolher o que focar, mas sim abandonar todas as outras opções que também poderiam ser.
É um exercício de distanciamento e desapego que o líder precisa fazer e ensinar sua equipe. Aplica-se aqui duas competências do WEF para 2020: a Resolução de problemas complexos e o Pensamento crítico.
Um novo mindset para lidar com as ambiguidades
Mais um desafio se apresenta para o líder, que é desenvolver a mentalidade, a forma de pensar dos seus colaboradores, instigar uma mentalidade (mindset) de crescimento, de capacidades e possibilidades. Isso ajudará os seus colaboradores a se adaptarem ao futuro. Para isso é preciso enxergar as pessoas, as situações e suas variáveis sob diferentes perspectivas e sem julgamento, ampliando a forma de pensar, a empatia e o horizonte diante da nova realidade. Exercitar com a equipe a visão amplificada e sistêmica aperfeiçoando o conhecimento e a compreensão das inter-relações e das perspectivas.
A ambiguidade é também companheira constante neste momento, trazendo diversas possibilidades, diferentes caminhos diante de uma situação, que podem assumir diferentes sentidos. São várias possíveis respostas a uma única questão. Não é mais “isso OU aquilo”. O cenário agora é “isso E aquilo”. A ambiguidade nos pede coragem! Coragem para fazermos escolhas, para tomarmos decisões. Por mais simples ou desimportante que seja a situação, é importante pedir que o colaborador faça escolhas, decida. Ajudá-lo a pensar criticamente, provocar com perguntas, desenvolver sua capacidade de pensar.
Com isso o líder exercita a capacidade de decidir e fortalece o discernimento do seu colaborador. Nesse momento, é crucial olhar retrospectivamente e ver como foi a tomada de decisão, estando aberto aos erros, aceitando-os e analisando-os. Praticando “lições aprendidas”.