UM OLHAR PARA ALÉM BULLYING

Depressão, automutilação, isolamento, internamento, baixo rendimento escolar são algumas das consequências do bullying sofrido por jovens nas escolas. Mas as reações podem ser extremas como suicídio ou mesmo homicídio – em muitos casos, um seguido do outro, ou seja: tragédia. Isso não é ficção – é realidade.Acontece que, apesar de conhecermos os efeitos perturbadores do bullying, diagnosticarmos e identificarmos a situação e os envolvidos; e até sabermos que ações educativas sintomáticas (não preventivas) bem como medidas legais têm sido criadas e aplicadas, mesmo assim, somos surpreendidos com suas consequências funestas. O caso de Goiânia é exemplo que se repete.

É hora de pensar não apenas no ato específico do bullying mas no ambiente em que ele acontece, no sistema que de alguma forma o retroalimenta. O bullying não privilégio da escola, pode acontecer em qualquer contexto onde há relações humanas. No contexto escolar vale perguntar: O que é necessário para que, na cena escolar, seus atores – diretoria, corpo docente, corpo administrativo, alunos, pais de alunos – efetivamente percebam a importância do papel de educação integral da escola, da criação de um ambiente educativo que abarque tanto o aprendizado formal quanto as relações sociais interpessoais?

 Esse ambiente educativo é aquele que inclui não somente o professor, mas todos que estão presentes na escola, atenta-se para o aprendizado de conteúdo, zela-se pelo espaço, cuida-se do outro e das relações, ocupa-se da mente, do corpo e da emoção que coexistem sistemicamente. É no conjunto desse ambiente que todos os seus atores são corresponsáveis pela lapidação desse ser social que respeita o outro, compreende e atua coletivamente, é solidário e empático, e não somente desenvolve o ser “intelectual”.

 Assumir a integralidade de um ambiente educativo implica não somente considerar cada ator dessa cena como importante, mas também conscientizá-lo de sua importância. Como lidar “adequadamente” com o bullying que acontece no recreio, se o inspetor se sente humilhado pela forma como é tratado por seu supervisor? E ainda, dizem para ele: “É assim mesmo, meu chapa!”

 A recorrência de bullying é um sinal de que o “estado das coisas” continua o mesmo ou pouco se desenvolveu. Alguns passos cruciais já foram e estão sendo dados para coibir este ato, assim como ações judiciais para lidar com o ato consumado, suas consequências e seus atores. Cabem agora ações integralizadas que construam uma nova forma de enxergar e promover o ambiente educativo. Atitudes que possibilitem uma maior conscientização dos atos individuais e suas consequências. É necessário ter um foco convergente que integre a educação formal, as relações  e seus processos. Ninguém pode ficar de fora (administradores/alunos/professores/inspetores/pais etc.). É preciso transparência, verdade e envolvimento de todos os atores desse ambiente educativo.

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