Por sermos seres sociais, como evidenciou Aristóteles, não há escapatória!
A inclusão é um algo que bate à nossa porta todo o tempo seja no grupo familiar, de trabalho, de amizades, nas relações de grandes grupos sociais ou nas relações dois a dois.
O primeiro passo para iniciarmos uma relação saudável com um outro é fazermos nossa inclusão nesta relação e incluirmos este outro. Uma via de mão dupla que nossa atualidade tem revelado o quanto não estamos sabendo realizar. Chego em um país encontro arame farpado, num bar encontro intolerância, no trabalho me deparo com a “verdade” inconteste do outro, na rua esbarro com a “bolha” do outro, na qual ele se resguarda do mundo ao seu redor e assim tecemos ciclos de relações frágeis e viciadas.
Incluir, segundo o psicólogo Will Schutz em “A Profunda Simplicidade”, denota estar verdadeiramente aberto a conhecer o outro, a perceber o outro como ele é, a interessar-se pela pessoa. A inclusão pode acontecer tanto superficialmente, como nas relações sociais que estabelecemos em nosso cotidiano, quanto mais profundamente, como nas relações de trabalho e nas relações familiares, conforme a interação que desejamos estabelecer com o outro – grau de intimidade, proximidade e tempo de relacionamento.
A evidência é que, independentemente do grau de profundidade do relacionamento, temos uma tendência a não darmos importância a este momento nas nossas relações, não procuramos realmente perceber a pessoa, vivemos o imediatismo do encontro.
O sociólogo, Zygmunt Bauman, em seu livro “Amor líquido – Sobre a fragilidade dos laços humanos”, nos traz a figura do homem atual sem vínculos, livre de compromisso com o outro. As pessoas hoje se conectam, não se relacionam. Conectamos com esse outro como “produto” que apreciamos ou descartamos conforme as nossas necessidades e desejos; esquecendo-nos das próprias falhas e incompletudes.
Essa liquidez das relações desnuda uma inclusão esgarçada; pulamos essa fase do relacionamento, na qual nos apresentamos como seres únicos e íntegros, e buscamos descobrir quem é o outro, também único e distinto. É dessa forma que o reconhecimento deste ente “pessoa” acontece de forma mais saudável. Mas é como se não houvesse mais tempo, somos de imediato um papel, uma função, um resultado, uma utilidade antes de sermos pessoas.
“Vamos direto ao assunto!”
Com isso perdemos a chance de construirmos um bom vínculo. Essencial para o desenvolvimento de uma relação íntegra, de confiança, de parceria e de comprometimento.
Paradoxal, pois as organizações, representadas pelas pessoas que a fazem existir, urgem por “engajamento” da(o) funcionária(o), buscam envolvimento e motivação, mas se esquecem de criar vínculo, de incluir.
Não é um momento inicial de apresentação do outro que gera inclusão. A inclusão é um modo de enxergar o outro e se enxergar, se relacionar, algo que acontece diariamente, em todas as nossas ações.
Importante salientar que, nas organizações, não é apenas o(a) gestor(a) que inclui o(a) colaborador(a), é sempre uma via de mão dupla; o(a) gestor(a) quer se incluir, se coloca como pessoa ou atua sempre em seu papel e sua hierarquia? Ele(a) busca de forma empática interagir com a(o) funcionária(o)?
Não vivemos somente de inclusão, queremos e temos que realizar, produzir, dar resultado, isso sabemos de cor! Mas não é mais possível passarmos por esta etapa da construção de um relacionamento de forma tão displicente. Incluímos facilmente os semelhantes, controlamos facilmente os diferentes, pois é difícil incluir o que nos é dessemelhante, estranho, não familiar.
Interagir, ser valorizado e aceito, sentir-se integrado e querer estar dentro de um grupo são necessidades comuns a todos nós, seres sociais. E, como já demonstrou Fela Moscovicci, em “Equipes dão Certo”, “o nível sócio emocional pode favorecer ou prejudicar o andamento das tarefas, dos resultados do trabalho em conjunto, e das relações interpessoais que se formam e desenvolvem.”
A inclusão é ao mesmo tempo acolhedora e desafiadora. É reconhecer o outro como pessoa e também nos apresentarmos como tal – seres falíveis, cientes, íntegros, incompletos…
O que nos faz não aprofundarmos este momento nos nossos relacionamentos?
“O que será que me dá?”